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Questa pagina fa parte del sito L'Ottocento a San Marco Argentano di Paolo Chiaselotti

FERRANTE (ceppo n. 1)
Giuseppe Ferrante 1881 Giuseppe Ferrante e signora Miguel Ferrante figlio di Giuseppe

Da sinistra:
Giuseppe Ferrante (n.1881),figlio di Michele e di Maddalena Sesso, Giuseppe con la moglie Anna Maria Sperandeo in Brasile, il loro figlio Miguel Ferrante
(foto cortesemente inviate dalla nipote, la scrittrice Glória Maria Ferrante Perez, dal Brasile)
In Memoriam de Miguel Ferrante
Edson Vidigal

Sempre que nos voltamos em olhares ao derredor, conferindo os que ainda estão, e nos damos conta de que há um a menos, somos então levados a refletir sobre este grande e divino exercício que é o de se ir durando.

O poeta Fernando Pessoa dizia: "Não faço anos, duro".

Enquanto houver, quanto a alguém dentre nós, uma desculpa médica sinalizando para a misteriosa viagem para a qual não há passagem de volta; enquanto houver luz para os olhos e saúde mental irrigando o corpo inteiro; enquanto nos mantivermos lúcidos e, assim, unidos na mesma paz, iremos durando; enquanto não cumprirmos, conclusivamente, o nosso itinerário pela vida, iremos durando.

E enquanto duramos, aprendemos e, mais ainda, temos que aprender. O que tem sido a vida para cada um de nós, julgadores, senão um interminável aprendizado? Sabemos quase tudo sobre as derrotas alheias e pouco aprendemos, quase sempre, com as nossas derrotas. Para as molduras nas paredes dos outros, somos os fortes, os imbatíveis. Diante dos nossos espelhos, mal temos tempo para fazer a barba. Refletindo, como agora, nessa recontagem ao derredor e constatando que há um a menos, percebemo-nos mais iguais, mais humanos, mais humildes.

Nada nos torna tão bonitos, tão iguais, tão humildes, tão generosos, tão tolerantes, quanto essa certeza de que essa conta de diminuir, dentre nós, nunca vai ter fim. E de que um dia, como Miguel Jeronymo Ferrante agora, teremos de partir. Isso tudo redunda na comum lição de que nossa importāncia no mundo apenas será aferida em razão das nossas ações. Será bom que se diga quanto a todos dentre nós o que, sem medo de erro, se diz agora, quanto a Ferrante, - foi um bom Juiz.

Nada se sabe, quanto a Ferrante, que tenha cedido às investidas do totalitarismo, nem o da ditadura política durante a qual judicou, nem àquele totalitarismo que, de alguma forma, se entranha e estufa de intolerāncia e arrogāncia o peito de quantos, como nós também, são investidos de algum poder de autoridade. Compreender a razão alheia não é fácil. Menos difícil é perdoar. Mas compreender é importante. É mais importante do que perdoar.

Miguel Jeronymo Ferrante foi Juiz a vida inteira; poeta o tempo todo. Juiz ou poeta, humanista sempre. Naquela eloqüência verbal e física, tonitroante, moravam sentimentos harmônicos a anunciarem que ele estava sempre de bem com a vida. Estar de bem com a vida, não é apenas estar de bem consigo próprio. É indissociável de estar de bem com os outros. Ferrante entre nós, os seus contemporāneos, era assim.

Recordo Ferrante, aposentado, pouco mais de um mês antes de morrer, aposentado, mas serelepe aqui no STJ. Costumava brincar comigo, queixando-se que estava sem muito o que fazer e pedindo, só de brincadeira, que eu lhe mandasse alguns processos, de preferência dos mais complicados, para ele se distrair. E eu ameaçava, "não brinca, que eu mando..."

Vale registro sua marcante passagem pelo Tribunal Superior Eleitoral, onde fortaleceu correntes inovadoras, ajudando a mudar, para melhor, a jurisprudência eleitoral. Bem antes, em pleno regime militar, ele resolveu enfrentar a censura não só nas suas ações judicantes. Editou um livro com decisões judiciais contra atos da censura oficial. Era o democrata buscando tanger para bem longe a intolerāncia política, inimiga declarada da liberdade de manifestação do pensamento.

Não haverá um dentre os que, como eu, conviveram com o Ministro Ferrante, no Tribunal Federal de Recursos e depois neste Superior Tribunal de Justiça, que não tenha um depoimento emocionado e de orgulho a prestar. No seu itinerário soube espraiar respeito, amizades, compreensão, amor, tudo pela causa dos outros, que deve ser sempre a grande causa da vida.

Creio, senhor Presidente, senhores Ministros, nobre representante do Ministério Público, senhoras e senhores advogados, ter expressado aqui o sentimento de júbilo pelo Juiz que esta Corte teve e o sentimento de grande pesar pelo mesmo Juiz que a nossa convivência, sempre fraterna, perdeu. Assim, expressamos, ainda, nossas sentidas condolências à familia de Ferrante, a viúva, D. Maria Augusta Rebello Ferrante, a seus filhos, Glória Maria Ferrante Perez e Saulo Marcos Rebello Ferrante e ao seu neto, Rafael Ferrante Perez e demais familiares. Obrigado.

Discurso em homenagem ao Ministro Miguel Ferrante, em 8 de agosto de 2001



(Anna Spe Anna Sperandeo (Maria) e il primo marito Vincenzo Giordano